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Acidente Radioativo do Brasil
Acidente Radioativo do Brasil

 

 

 

Césio 137: a tragédia radioativa do Brasil

Saiba os detalhes do mais emblemático acidente radiativo do Brasil que aconteceu na cidade de Goiânia em 1987.

EMILIANO CHEMELLO

chemelloe@yahoo.com.br

Dois amigos, Wagner e Roberto, entram em um prédio abandonado de uma clínica médica. Encontraram lá um equipamento e o retiraram de lá na possibilidade deste ser vendido como sucata, devido ao fato de ser pesado e provavel-mente ser feito de chumbo, um metal valioso. Os dois amigos não sabiam, entretanto, que o aparelho em questão era utili-zado em tratamentos de radio-terapia possuía césio 137, ele-mento radioativo, o qual era o motivo da presença protetora do chumbo.

Após muito trabalho, os dois conseguiram abrir a cáp-sula de chumbo e, dentro dela, encontraram um pó branco. Sem saber o que era, após cin-co dias em poder da cápsula, Wagner e Roberto começaram a sentir sintomas estranhos, co-mo enjôo e diarréia, fraqueza, mas não associaram isto de início à cápsula roubada e mui-to menos ao pó branco dentro dela, o qual se parecia com sal de cozinha. Decidiram vender a cápsula para Devair, dono de um ferro velho da cidade. En-tão, os empregados de Devair conseguem desmontar comple-tamente a peça de chumbo e guardaram-na uma prateleira. Já a noite, Devair é atraído por uma luz intensa azulada que provinha da peça. Não passou por sua cabeça, entretanto, que aquele brilho era o prenúncio do maior acidente radioativo em área urbana que o mundo iria presenciar. Ainda hoje, na cida-de de Goiânia, capital do estão de Goiás, o medo, preconceito e doenças associadas a contami-nação afligem os moradores da cidade.

O mundo, um ano antes, ficou perplexo com o acidente na usina nuclear da cidade ucraniana de Chernobyl, mas no Brasil este acidente era uma realidade muito distante. Po-rém, um ano depois, o acidente de Goiânia provaria o contrário.

O pó encontrado dentro da cápsula de chumbo era o cloreto de césio (papo de cientista: um sal de fórmula CsCl), sendo que o Césio desta composto é um tipo de átomo radioativo do ele-mento. A propriedade de bilhar no escuro (papo de cientista: lu-minescência) do misterioso pó chamou a atenção de Devair, que o levou para casa e mostrou a sua família, parentes e amigos. Estes, por sua vez, ao tocarem no pó, involuntariamente espalha-ram césio radioativo, um vilão invisível e silencioso, mas extre-mamente perigoso. Devido a alta solubilidade do cloreto de césio em água e seu brilho azul inten-so, o composto radioativo disse-minou-se rapidamente nas re-dondezas da casa de Devair. Com

 

 

o tempo, porém, as pessoas começaram a adoecer (a filha de Devair ficou seriamente de-bilitada). Desconfiada, a esposa de Devair levou tal cápsula à vigilância sanitária da cidade. O médico que a recebe, descon-fiado de uma possível atividade radioativa da peça, chamou o físico Valter Mendes que trouxe consigo um medidor de radioa-tividade (papo de cientista: con-tador Geiger). Após a indicação de elevado índice de radioativi-dade na cápsula, o físico aler-tou as autoridades, as quais articularam-se imediatamente em uma operação para avaliar a magnitude da contaminação.

As vítimas foram enca-minhadas ao estádio olímpico de Goiânia. Uma cena, sem dúvida, de pânico. Funcioná-rios com roupas de proteção avaliavam com aparelhos se as pessoas estavam contaminadas com material radioativo. Mais de cento e doze mil pessoas passaram por esta análise. Nos dias seguintes, as áreas relaci-onadas com a moradia de De-vair são isoladas, objetos foram confiscados e animais sacrifi-cados. A medida com que o tempo passava, mais vitimas sentiam sintomas mais inten-sos e eram internadas em hos-pitais.

Figura 3 – Síntese do conceito de radioatividade de dos três tipos de radiação.

Nas semanas e meses seguintes, instaurou-se no Brasil um ambiente de pânico, medo, preconceito e desinfor-mação. Goianos não consegui-ram desembarcar em outros estados. Produtos da cidade não eram vendidos em outros estados: tudo por causa do medo de estarem contamina-dos. Até os enterros das víti-mas, as quais tiveram seus caixões blindados e cobertos com concreto, sofreram retalia-ção dos moradores das locali-dades próximas (veja Figura 2). O material radioativo recolhido ficou por dez anos em contai-neres armazenados num local provisório e, após, as treze to-neladas de lixo radiativo (em geral pertences da vítimas) fo-ram guardados em ambientes subterrâneos rodeados de gros-sas paredes de concreto.

Figura 4 – Ilustração do poder de penetração das radiações alfa (), beta () e gama ().

É difícil mensurar o nú-mero de vitimas, pois as mes-mas geralmente desenvolvem problemas de saúde após algum tempo. Logo depois da contami-nação, quatro pessoas morre-ram. Entretanto, vinte anos depois, 59 pessoas morreram por complicações decorrentes da exposição ao material radioati-vo. Estima-se que mais de seis-centas pessoas foram contami-nadas.

Mas afinal, o que é o Cé-sio 137 e por que ele é tão peri-goso? Bom, o Césio 137 (dora-vante 137Cs) é um tipo de átomo do elemento Césio (papo de cien-tista: isótopo) que possui com-portamento radioativo. Seu nú-cleo não é estável e, para atingir esta estabilidade, emite radia-ção (veja Figura 3). Após emitir radiação por um tempo deter-minado, todo o césio transfor-ma-se no elemento bário (núme-ro atômico 56). Para se ter uma idéia do tempo que isto demora para acontecer, temos um parâ-metro chamado meia vida, que indica quanto tempo demora um determinado elemento radioativo para ter sua atividade radioativa diminuída pela metade. No caso do 137Cs este tempo é de aproxi-madamente trinta anos.

Na transição entre Césio e Bário, ocorre emissão de radiação do tipo  (beta), enquanto que na transição da etapa da passagem do Bário instável à bário estável, ocorre emissão de radiação do tipo  (gama). No caso de Goiânia, o césio estava na forma de sal cloreto de césio (CsCl(s)), fato que potencializou a contaminação em massa, pois trata-se de um sal altamente solúvel em água.

A radiação  (que pode ser contida por uma placa metálica fina ou madeira) tem um poder de penetração bem menos inten-so que a radiação  (que só pode ser barrada por grossas paredes de concreto ou chumbo, conforme

Figura 4 – Ilustração do poder de penetração das radiações alfa (), beta () e gama ().

 

ilustra a Figura 4). Como a radiação  tem alto poder de penetração, esta é potencial-mente mais perigosa que as demais radiações.

Quando utilizados ade-quadamente, os elementos ra-dioativos são muito úteis. O 137Cs juntamente com o 60Co são muito utilizados na medi-cina, principalmente como fon-te moderada de raios gamas, radiação utilizada para a inati-vação do câncer em seres hu-manos e na esterilização em escala industrial. Porém, este uso é controlado e aplicado somente nas regiões de interes-se. A radiação , devido ao seu alto poder de penetração, inte-rage com os componentes de nosso corpo, produzindo exci-tação e ionização das suas mo-léculas. Seria como se, neste texto, a radiação conseguisse arrancar algumas letra e pala-vras. Dependendo da quanti-dade e de quais letras ou pala-vras são retiradas, o sentido do texto seria afetado. O mesmo ocorre com nosso corpo: o tem-po de exposição e a região afe-tada determinaram a gravidade do caso.

Nossas células carre-gam consigo o DNA, o qual tem o código genético da pessoa. Se este código é afetado pela radi-ação, a pessoa pode até não desenvolver nenhuma patolo-gia, mas os filhos desta podem ter problemas físicos de má formação devido à mutações geradas pela radiação.

Para saber mais:

àGreenpeace https://www.greenpeace.org.br/nuclear/cesio/flash_cesio.html

à Apostila do CNEN sobre ra-dioatividade

https://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/radio.pdf

à O que é Césio 137 (artigo da revista científica Química Nova)

https://quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/1988/vol11n2/v11_n2_%20%281%29.pdf

à Música: radio activity da banda Kraftwerk.

Tradução:

https://letras.terra.com.br/kraftwerk/21755/traducao.html